Arthur Zanetti faz história e conquista o ouro nas argolas em Londres

Paulista de 22 anos é o primeiro medalhista olímpico do Brasil na ginástica


Da frieza ao ouro. Arthur Zanetti queria ter a responsabilidade toda em suas mãos, enfaixadas e vermelhas de tanto esforço. Economizou nas eliminatórias para ser o oitavo a se apresentar ali, na final. Foi ao ginásio de aquecimento enquanto o maior dos adversários buscava o bi olímpico. Tudo calculado. Último a se pendurar nas argolas da Arena de North Greenwich, o baixinho de 1,56m desceu dela, deu um passo para trás e abriu o sorriso. Nota 15.900. Tinha desbancado o chinês Yibing Chen, favoritíssimo. A primeira medalha da história da ginástica brasileira em Olimpíadas era dele, um estreante. E de ouro.

Zanetti fecha uma campanha de altos e baixos do país na Arena de North Greenwich. Frustração com o fraco desempenho da equipe feminina; alegria com a inédita final e o 10° lugar de Sergio Sasaki no individual geral. Emoções que apenas prepararam a torcida para a segunda-feira de ouro.

Foi a terceira vez que o Brasil chegou a uma final na ginástica com chances reais de medalha. Em Atenas 2004, Daiane dos Santos, favorita, amargou a quinta colocação após não conseguir frear no pouso. Diego Hypolito, hoje bicampeão mundial do solo, levou o país à primeira final masculina. Caiu sentado: sexto. Em Londres, não passou à final: outra queda, desta vez de barriga, nas eliminatórias.

Série mais fraca para ser o último a se apresentar na final

Ali, nas argolas, o espaço para imprevistos e improvisos costuma ser mínimo. Quase uma matemática: nota de partida + nota de execução. Zanetti traçou uma estratégia. Queria se classificar em quarto para ser o último a se apresentar na final. Trocou um movimento de grau A por um de grau D nas eliminatórias. Fez uma série simples, com execução quase perfeita, a melhor entre os 67 adversários: 9.116 de 10.000. Passou em quarto, com 15.616 pontos. Chen liderou com 15.858 – 6.800 e 9.058 de execução.

Para a final, sim, a série mais difícil. Tão difícil quanto a do chinês. Tática meticulosa para tentar batê-lo. Yibing, “primeiro gelo” em chinês, nasceu no dia em que o pai venceu um campeonato de patinação velocidade. Para Londres, levou o favoritismo em números: duas medalhas de ouro, quatro títulos mundiais (2006, 2007, 2010 e 2011).

A grandeza de Chen estava na arena antes mesmo de a competição começar. No telão, imagens de momentos históricos da ginástica em Olimpíadas. E lá estava ele, dividindo espaço com a maior de todas, a romena Nadia Comaneci, primeira a conquistar a nota 10 na história, nos Jogos de Montreal, em 1976.

Mas Londres era, para Zanetti, sinônimo de boas lembranças. Em 2009, ficou em quarto no Campeonato Mundial, em sua primeira grande aparição internacional. Em janeiro deste ano, no evento-teste para as Olimpíadas, levou a medalha de ouro.

Zanetti se enfileirou aos sete finalistas para saudar o público na apresentação, mas saiu logo dali. Queria se aquecer. Não viu Chen, o primeiro a se apresentar. O chinês tirou nota pior do que na estreia, mas ainda assim comemorava. Com 15.800, sorriu. Estava confiante. O brasileiro, ao retornar e ver a nota, não se assustou.

Chen ficou sentado, com fones nos ouvidos, escutando música. Achava que o ouro era questão de tempo. Dos oito finalistas, Zanetti, de 22 anos, era o mais baixinho – 1,56m – e o segundo mais jovem.

O argentino Federico Molinari caiu na saída. O russo Balandin e o italiano Matteo se candidataram ao pódio com 15.666 e 15.733. O búlgaro Iordan Iovtchev, aos 39 anos, em sua sexta edição de Jogos, buscava sua quarta medalha olímpica. Pousou de joelhos, mas ainda assim foi aplaudido: 15.108.

Zanetti, todo de azul, deixou o casaco amarelo sobre os ombros, como uma capa de super-herói. Precisaria de um ato heroico para superar o chinês e chegar ao pódio. Teria de beirar a perfeição. Tirou o agasalho, apertou ainda mais os punhos, enfaixados. Passou magnésio nas mãos, enxugou os braços.

Seguiu para as argolas, fez a segunda melhor apresentação da carreira e saiu comemorando. Sabia que em minutos faria história. E fez. Nota no telão: 15.900. Medalha inédita para o Brasil. O chinês ficou com a prata, e o italiano Matteo Morandi (15.733) terminou com o bronze.

Longe da capital britânica, o paulista de São Caetano do Sul também foi medalhista de prata no Pan-Americano de Guadalajara e no Mundial, em 2011. Já neste ano, ganhou o ouro nas etapas de Maribor (Eslovênia) e Ghent (Bélgica) da Copa do Mundo.

Fonte: www.globoesporte.globo.com/olimpiadas

Arthur Zanetti comemora o ouro na prova de argola dos Jogos de Londres (Foto: Reuters)