Sarah Menezes conquista primeiro ouro do judô feminino

Brasileira derrota romena Alina Dumitru e leva primeira medalha dourada do País em Londres 2012


Quando saiu do Brasil rumo a Londres, a pequena Sarah Menezes carregava expectativas desproporcionais para seu tamanho. Lutadora mais leve da seleção de judô, a peso-ligeiro, de apenas 1,52m e 48kg, era a grande esperança de primeira final olímpica do Brasil entre mulheres na história da modalidade. A piauiense de 22 anos, porém, foi além: com a vitória neste sábado sobre a romena Alina Dumitru, campeã dos Jogos de Pequim 2008, Sarah entrou para a história como a primeira mulher brasileira a ganhar uma medalha de ouro no judô nas Olimpíadas.

Os olhos, pequenos, pareciam fuzilar. Sequer se importava com os cabelos, despenteados, teimando em cair no rosto. Dos treinos com meninos, na infância, ao inédito ouro feminino, precisou de duas Olimpíadas. Sarah, princesa do Piauí, fez o Hino Nacional tocar pela primeira vez em Londres. Resgatou uma medalha dourada que não vinha havia duas décadas. A cajuína se junta a Aurélio Miguel, ouro em Seul-1988, e Rogério Sampaio, em Barcelona-1992. Os dois estavam ali, na plateia do Complexo Excel de Londres.

Do Piauí a Londres, festa por ouro inédito

Ali, no tatame, ela parece a Sarah que, menina, por vezes ia treinar escondido, que não imaginava correr o mundo atrás de medalhas. Que treinava com garotos porque queria ser a melhor. Agora, é a melhor.

Sarah gosta de arrumação, mas tudo muda naquele quadrado. Ao pisar no piso amarelo, não se preocupa com os cabelos, com nada. Olha as adversárias e vê apenas pontos: onde segurar, como encaixar cada golpe. E foi assim, com estratégia, que traçou a caminha até o ouro. Não venceu nenhuma das lutas por ippon.

Na primeira, uma vitória simples, dois yukos, sobre a desconhecida vietnamita Ngoc Tu Van. Depois, sofrimento. Contra a francesa Laetitia Payet, triunfo a 18 segundos, de novo com um yuko. A chinesa Shugen Wu assustou nos últimos segundos. Ficou para trás.

Coordenador da seleção, Ney Wilson comemorou a derrota da japonesa Tomoku Fukumi, número 1 do mundo. Os dados estavam ali: contra Alina Dumitru, Sarah tinha três vitórias em cinco lutas. Venceu as três últimas. Contra Fukumi, quatro derrotas.

Rosicléia Campos, a treinadora com fama de “escandalosa”, se segurou o quanto pôde. Com o lugar na finalo, esbravejou. Trincou os dentes, como se estivesse com raiva. Era alegria, alívio. A vitória contra a belga Charline Van Snick garantia a Sarah ao menos uma medalha de prata. As duas queriam mais.

A luta final começou com muito estudo. As duas mediam a distância na briga por pegada. Sarah foi a primeira a tentar uma entrada, bem defendida por Dumitru, que aparentava sentir dores no braço direito. A romena começou a girar mais para tentar evitar que a brasileira a atacasse. Com pouco menos de quatro minutos restando, Sarah quase conseguiu uma queda. Dumitru defendeu, mas a brasileira atacou no solo, chegando perto de encaixar uma chave de braço. Uma vez que percebeu que o caminho era por ali, a piauiense atacou novamente o braço e conseguiu um shido (advertência) contra a romena.

Ciente de que poderia perder a luta com nova advertência, Dumitru passou a ser mais incisiva e foi com tudo para um golpe de quadril, que quase entrou. A romena assustou com uma técnica de pé, mas Sarah contragolpeou e conseguiu um yuko, abrindo 1 a 0 de vantagem. Os últimos 18s pareciam que seriam de tensão, mas Sarah atacou e conseguiu um wazari para assegurar o ouro. Ela ainda foi para o estrangulamento antes de o cronômetro zerar. Um wazari e um yuko a zero para Sarah Menezes, primeira judoca campeã olímpica do Brasil.

Fonte: www.globoesporte.globo.com/olimpiadas

Confira a foto de Sarah na luta final:
(Foto: Agência AFP)